Full width home advertisement

Post Page Advertisement [Top]

Em dezembro de 2003, em virtude da minha conclusão do curso de Administração, finalizei uma monografia com o título "Os Papéis Gerenciais de Mintzberg: uma Aplicação na Atividade de Pastores Evangélicos". Nesse trabalho, eu fazia um paralelo entre as principais atividades de um executivo, elencadas por Henry Mintzberg, e aquelas desempenhadas por pastores evangélicos.

Na elaboração da parte teórica, selecionei alguns princípios de Administração que eu havia encontrado nos textos bíblicos:

Princípios Administrativos
Passagem Bíblica
Ensino/Evento
Comunicação
Provérbios 15:1
Tito 3:2
No trato pessoal, utilizar a cortesia, inclusive para
evitar ou debelar conflitos.
Controle
Provérbios
27:23-24
Princípio de se ter atenção àquilo que lhe é incumbido, tendo em vista à instabilidade das circunstâncias.
Delegação
Êxodo 18:13-27
Seguindo um conselho de seu sogro, Moisés delega parte de suas atividades.
Liderança
I Timóteo 3:2-7
Paulo escreve a Timóteo a respeito do perfil no qual o líder principal de uma igreja deveria se espelhar.
Planejamento
Lucas 14:28-32
Constatação de que é necessário fazer cálculos para se realizar um empreendimento.
Recrutamento
e Seleção
Gênesis
41:33-35
Início dos sete anos de fartura no Egito e necessidade de se recolher mantimentos para os anos de fome que se seguiriam, através de pessoas designadas para aquela tarefa.


Ao relacionar esses princípios, percebi que a ciência da Administração é muito mais antiga que suas origens seculares oficiais. Seu principal precursor, com certeza, é o próprio Deus, que poderia ter criado o mundo todo com uma só frase, mas certamente, para nos deixar um exemplo de organização, preferiu fazê-lo em etapas de 6 dias.

Motivada por essas constatações, e estudando as pesquisas de Mintzberg, observei que os pastores, como os executivos, costumam assumir papéis interpessoais (figura de proa, líder e ligação), papéis de processamento de informações (monitor, disseminador e porta-voz) e papéis de decisão (empreendedor, controlador de distúrbios, administrador de recursos e negociador).

Resumindo, e já estabelecendo a devida aplicação, os papéis seriam os seguintes:

PAPÉIS INTERPESSOAIS
Figura de Proa
Na posição de líder principal de uma igreja ou congregação, o pastor deverá cumprir algumas obrigações de natureza mais cerimonial. São atividades intrínsecas à figura de um pastor: visitas a membros ou parentes de membros doentes, celebração de casamentos, aconselhamentos, assinatura de certificados emitidos pela igreja, dentre outras bem específicas.

Líder
Este é o papel que permeia todas as demais atividades de um pastor. É a atribuição do pastor que é derivada da responsabilidade geral que o mesmo tem pelo rebanho que lidera. A liderança exercida pelo pastor segue dois caminhos. O primeiro refere-se à liderança direta, na qual ele manifesta suas diretrizes nas atividades da igreja. No momento que o pastor dirige uma sessão (assembléia dos membros), ele define rumos (mesmo submetendo à aprovação da assembléia, ele influencia as decisões em virtude de sua posição) para atividades na igreja ou escolhe responsáveis para estas mesmas atividades. A liderança indireta se configura através dos incentivos e da motivação que o pastor transmite aos seus membros. Devido a peculiaridade da atividade pastoral, a motivação que tem mais impacto nos membros é decorrente do grau de coerência que a vida do pastor tem em relação aos princípios bíblicos. Evidentemente, este aspecto demanda um esforço muito grande por parte do pastor, mas este é imensamente recompensado quando vê os princípios que acredita sendo espelhados nas atitudes dos membros.

Lígação
Nesse papel, o pastor procura estabelecer contatos externos à igreja, a fim de se manter atualizado com os acontecimentos de seu meio, e também buscando informações que venham a ser úteis para si e para seus liderados. Neste ínterim, o pastor mantém contatos com pastores e missionários de outras igrejas, além de seminários e centros de estudos bíblicos. BAXTER (1996, p. 48) argumenta que é importante que o pastor tenha laços estreitos com seus congêneres, com vistas ao fortalecimento da causa comum que defendem.

PAPÉIS DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES
Monitor
Essa é a função específica de coleta de informações, interna ou externamente à igreja. O pastor deve estar atento ao que ocorre em seu meio. No âmbito de sua igreja ou congregação, a informação poderá lhe ser repassada de forma espontânea, sem a busca direta do pastor. No ambiente externo, as fontes de informações são diversas: pastores e missionários de outras igrejas, telejornais, revistas, internet etc.

Disseminador
"Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina." (II Timóteo 4:1,2)

O papel de disseminador implica no compartilhamento de informações para a igreja. Esta transmissão de informações pode ser de modo formal (pregação, estudos bíblicos, aviso no púlpito, dentro de uma sessão etc.), ou de modo informal (conversa descontraída com um membro, telefonema etc.). Visando aprimorar sua preleção, em geral os pastores estudam princípios de homilética. Seguindo o mesmo raciocínio, seria interessante que o pastor também se dispusesse a estudar princípios de comunicação interpessoal, pois tanto devido à transmissão das pregações, como aos inúmeros contatos que trava com seus membros, não raro ocorrem distorções quanto ao entendimento da mensagens, o que pode vir a afetar consideravelmente o relacionamento do pastor com seus membros.

Porta-Voz
Em algumas circunstâncias específicas, o pastor assumirá o papel de porta-voz de sua igreja. Ele falará em seu nome, transmitindo informações e defendendo seus interesses.

Quando o pastor é convidado para participar de uma associação de pastores para tratarem de assuntos afins, muitas vezes ele fala em nome de sua igreja. Em outras ocasiões, ele também poderá representar a igreja quando enviar correspondências para órgãos públicos ou outras instituições privadas para tratar de assuntos da igreja, ou até mesmo quando estiver em busca de ajuda financeira de outras igrejas, de instituições diversas ou de determinados indivíduos.


PAPÉIS DE DECISÃO
Empreendedor
"Sozinha, a visão faz um visionário.
A sabedoria, só, faz um pedante.
Mas a combinação de ambas é irresistível.
Visão sem tarefa produz um visionário.
Tarefa sem visão é enfado.
Visão com tarefa produz um missionário."

(SANDERS, 1995, p. 50)


O conceito de empreendedorismo está muito ligado à expansão de atividades atuais, com a criação de novas linhas de trabalho. No âmbito das atividades pastorais, ser empreendedor é gerar mudanças, quebrando paradigmas e inovando atividades dentro das igrejas. É evidente que as mudanças deverão estar orientadas pelos padrões bíblicos, sem ferir a coerência do que é pregado no púlpito pelo pastor.

A criação de novos ministérios (atividades), o acompanhamento destes recém-criados ministérios e até mesmo o apelo para voluntários se disporem a realizar missões em terras brasileiras ou estrangeiras são exemplos de ações empreendedoras.

Controlador de Distúrbios
Um pastor muitas vezes se depara com acontecimentos que tumultuam a harmonia da igreja, e demandam ações rápidas e enérgicas que venham a debelar a crise. São situações assim: ações da natureza que afetam a integridade física do local de reuniões, desvio grave de conduta por parte de algum membro, existência de conflitos entre indivíduos ou grupos na igreja, dentre outros.

Administrador de Recursos
Para que as atividades na igreja se mantenham funcionando adequadamente, é necessário haver uma gestão eficiente dos recursos humanos e materiais. Assim, o pastor tem o desafio de articular estes recursos de modo coerente e produtivo. SANDERS (1995, p. 67) enfatiza a importância da organização e do planejamento. Estes devem estar inteiramente consoantes com os alvos e objetivos almejados pela igreja. Para uma definição clara dos objetivos da igreja, é importante que o pastor realize reuniões com a diretoria e a assembléia dos membros, a fim de que todos se empenhem pelo atingimento destes alvos. Em consequência, deverão ser realizadas reuniões para tratar do planejamento como um todo.

Para focar o uso de seu tempo em questões que lhe sejam realmente pertinentes, o pastor pode delegar algumas de suas atribuições para membros de confiança. Como critério na escolha de membros assim, o pastor procura aferir o desempenho dos mesmos na realização de missões transmitidas no passado.

Negociador
Em função de sua posição de liderança, o pastor tem a autoridade e, em tese, as informações necessárias para tomar certas decisões de peso na igreja. Conseqüentemente, ele é o elemento mais capacitado para processos de negociação. Tanto internamente, quando negocia com a diretoria da igreja os gastos prioritários para o ano, como também externamente, quando procura barganhar o preço de um terreno para construção de um retiro, um pastor exerce o papel de negociador.

Para um desempenho adequado deste papel, o pastor deve ter a consciência que uma negociação se processa entre pessoas, mesmo que estas estejam representando famílias, grupos ou instituições, e que a presença de interesses conflitantes será a tônica da necessidade de se negociar.

Semelhantemente aos papéis assumidos por um executivo do mundo dos negócios, os dez papéis gerenciais desempenhados por um pastor formam um todo integrado, sendo dificilmente separáveis.

Em momentos de conflitos interpessoais, o papel de controlador de distúrbios assumirá uma relevância em relação ao, por exemplo, papel de disseminador, embora em muitos casos haja a necessidade de se assumir simultaneamente o papel de negociador.

HOWARD (1987, p. 135) argumenta que o momento “agora” será um forte indicativo de qual linha de ação deverá ser tomada. Assim, consciente deste dado e atento à diversidade de papéis que poderá assumir, o pastor terá mais subsídio para uma bem-sucedida tomada de decisão.

RESULTADOS ESTATÍSTICOS
No período de 17 a 23 de novembro de 2003, 10 pastores participaram de uma pesquisa, na qual se dispuseram a responder um questionário com 34 (trinta e quatro perguntas). Esse documento foi elaborado de modo que as perguntas fossem agrupadas de acordo com a caracterização de cada um dos 10 (dez) papéis gerenciais de Mintzberg, e as perguntas foram formuladas visando apenas a contagem de ocorrências dos eventos. Os pastores não foram instruídos a respeito dos papéis gerenciais e o questionário exemplificava atividades de sua rotina.

Dos 10 voluntários, 8 atuam em Fortaleza, 1 em Maracanaú e 1 em Juazeiro do Norte, ou seja, todos municípios cearenses. Todos os pastores são brasileiros e a média de congregados que tinham em sua responsabilidade, na época, era de 221 (duzentas e vinte e uma) pessoas, sendo que a maior igreja apresentou 468 (quatrocentos e sessenta e oito) congregados e a menor 43 (quarenta e três).

A ideia era que o questionário fosse respondido diariamente, mas a metade do grupo preferiu fazer uma avaliação geral das ocorrências, ao final da semana. Considerando as respostas de todos os pastores, verificou-se que os papéis relacionados com o processamento de informações apresentaram a maior incidência, conforme ilustrado no gráfico a seguir.


Como se pode ver, o de maior proeminência foi o papel de monitor. MACARTHUR (1998, p. 16) atesta esta realidade pastoral quando afirma: "Embora eu só possa pregar três horas por semana, estudo trinta".

Analisando de modo individual cada papel exercido, pode-se inferir que a demanda por determinadas ações será mais incidente em função do dia da semana.



Conforme pode se concluir, essa pesquisa indica que os pastores tendem a exercerem mais atividades relacionadas à busca e transmissão de informações, tais como preparação de mensagens e preleções.

De modo geral, pode-se também afirmar que os papéis gerenciais de Mintzberg, devidamente adaptados à realidade de um pastor evangélico, configuram-se como uma excelente metodologia de estudo dos atributos administrativos da função pastoral. Por meio deste suporte teórico, um pastor poderá entender melhor a diversidade de ações que englobam sua atividade, e, a partir de então, estar mais preparado para o nobre exercício a que se propõe: influenciar pessoas a amarem e a honrarem o precioso nome de Deus!

O conteúdo completo dessa monografia está na postagem Formação Acadêmica

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAXTER, Richard. O pastor aprovado. 2. ed. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996.

BÍBLIA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1994.

HOWARD, J. G. O líder eficaz. São Paulo: Imprensa da Fé, 1987.

MACARTHUR JR., John et al. Redescobrindo o ministério pastoral. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998.

SANDERS, J. Oswald. Liderança espiritual. 5. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1995.
Print or Generate PDF

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bottom Ad [Post Page]

| Designed by Colorlib